Tuesday, July 31, 2007

Sobre tudo. E sobre nada.

Há dias assim. Dias em que as horas teimam em parar repetidamente a cada vez que os nossos olhos se desviam do relógio. Dias em que cada segundo demora uma eternidade, em que temos de olhar para o relógio para termos a certeza de que o tempo não estancou.

Hoje é um desses dias. Como se isso não bastasse, está um calor que nos cola a roupa ao corpo, enquanto o ar rarefeito e quente torna a nossa respiração difícil e desagradável. Tenho o ar condicionado ligado. Daquele canto da sala sopra um vento gélido e frio que faz lembrar dias dos quais os olhos já não se recordam. Perdoem-me. Minto. Não é o calor que me perturba e aborrece. É sim o lento passar dos dias, em situações que me cansam e desgastam, sem ver que exista uma verdadeira vontade de fazer bem, de melhorar, de fazer e reconhecer o trabalho feito com justiça, de querer fazer melhor. Gosto do que faço. Gosto de o fazer bem. Mas às vezes, só às vezes, os nossos esforços e intentos não conseguem evitar perder-se e diluir-se no mar de coisas que atravessam esta casa. E isso revolta. Revolta, magoa, desmotiva. Faz-nos crescer em apatia, deixa-nos amorfos, distantes, desinteressados. Gosto do que faço. Gosto de o fazer bem. O que me deixa pior é saber que o podia fazer ainda melhor. Mas não me apetece. Não o quero fazer. É por isso que o tempo pára. Porque espera que eu o queira fazer andar. Hoje não.

Às vezes pergunto-me o que faço aqui. Se é isto mesmo que quero fazer. Talvez não. Talvez não o seja. Porquê? Porque não me deixa tempo suficiente para fazer o que realmente gosto. Porque me absorve e me consome de tal forma que me é impossível desligar, porque me assola e assombra ao ponto de entrar nos meus sonhos quando durmo, porque me rouba àqueles com quem quero realmente estar. Passo demasiado tempo longe da mulher que amo, dos amigos de quem tenho saudades, da família, das coisas que gosto de fazer.

Mas tenho sonhos. Sonhos que quero muito concretizar. E esses sonhos exigem sacrifícios. Sei demasiado bem que tudo exige sacrifícios, foi assim em todos os sonhos que atingi. Mas às vezes damos por nós a pensar que o sonho vale o sacrifício. Acredito que sim. Mas isso não o torna mais fácil. Isso não faz esquecer todos os momentos que perco, não apaga as saudades dos que me são próximos, não me tira este peso dos ombros que me empurra para baixo.

Sei que vou conseguir. Sei que não irei para baixo. Sei que vou fincar os pés e sair por cima. Sei que os meus sonhos serão atingidos. Mas há dias assim. Em que o tempo não anda e os pensamentos não param. E em que temos de esquecer e andar em frente.

Vou trabalhar.