Monday, September 29, 2008

Noite de Reyes.


Rezam as más línguas que toda a época natalícia vai mudar de Dezembro para Setembro... E porquê? Porque a Noite de Reyes passou para o dia 27 de Setembro...


Piadas fáceis à parte, mais uma ida minha ao estádio da Luz recompensada com uma vitória. Começo a pensar que o Benfica só não ganha mais vezes em casa, porque eu não vou mais vezes ao estádio... Luís Filipe Vieira, Rui Costa, estou disponível para discutirmos uma eventual contratação para a função de Adepto Permanente. Entreguem-me um carro de serviço, gasóleo e portagens, um bilhete para acompanhante, vales para queijadas de sintra, magnuns e cachorros quentes, camisola e temos acordo.


Deixo-vos uma foto da Vitória a poisar na Luz. (Penso que agora até já é outra águia, mas o espectáculo continua a ser fantástico).




Thursday, September 11, 2008

Em diferido.

O despertador toca. São 4h45. Ao meu lado, a Carla dorme produndamente. Levanto-me. Sei que tenho de o fazer. Hoje vou para Genéve, e de Genéve para Divonne-les-Bains, em França.

Os olhos ainda me ardem. Ligo o chuveiro e deixo que a água me desperte mais suavemente, como só a água quente consegue. Debaixo do chuveiro, os minutos param. Se ao menos pudesse ficar ali até já ser tarde demais para partir... Segue-se a barba mal amanhada, num jeito desastrado de quem ainda não aprender a usar a nova máquina... Junto a escova e máquina à mala, e vou começando a vestir-me. Só tenho o candeeiro da minha mesa de cabeceira aceso, e o quarto continua escuro. Vejo a Carla, embrenhada entre as almofadas e os lençóis, enquanto dorme pacificamente. Consigo daqui saber qual seria o cheiro dos cabelos dela se a pudesse abraçar agora, imaginar o quão calma está a sua respiração, o quanto a sua face tem um ar pacífico e descansado. Visto o casaco de um dos meus fatos e uns jeans, mais confortáveis para a viagem. Uma camisa branca lisa, macia e cheirosa e os sapatos mais formais, pretos. Apago a luz, troco um beijo e um sussurro com o meu amor e despeço-me. Voltarei depressa. Três dias passam a correr. Se ao menos fosse tão fácil convencer-me disso como é dizê-lo.

São agora 5h25. Não estou atrasado, mas se tomar o pequeno almoço no nosso pequeno balcão, sei que vou sair de casa tarde. Odeio chegar atrasado a qualquer lado. Antigamente, preferia chegar sempre com 10 min de antecedência. Hoje, aponto para chegar just in time. Evolution, I guess. Levo um iogurte e umas bolachas integrais para o carro, o pequeno almoço no caminho do emprego nem sequer é uma novidade para mim. Apago as luzes e fecho a porta. Dou uma volta à fechadura. Ainda está escuro. O Aragon ouviu-me sair. Começa a ladrar com aquele ladrar grosso, que faz pensar se é mesmo o meu cachorro com 5 meses que está a ladrar. Digo-lhe que sou eu, em voz baixa, e cala-se. Está ensonado ainda, e nem sequer pensa em pedir atenção ou brincadeira.

Na estrada, poucos são os carros que já circulam. São maioritariamente camiões que encontro. Engulo o iogurte e mordisco as bolachas. Chego à empresa ainda de noite. Páro o carro em frente ao portão e o guarda-nocturno deixa-me entrar. Cumprimenta-me. Hmm, já me conhece? Devo andar a chegar a estas horas inumanas vezes demais. Deixo o Peugeot no estacionamento e entro no taxi que me vai levar ao aeroporto. Tenho um colega comigo que vai hoje e regressa logo à noite. É um tipo calado, do qual dificilmente se arranca mais do que uma frase curta. O taxista, habitualmente conversador, compreende que ainda é cedo de mais para fazer small talk... Ainda bem. Por momentos consigo fechar os olhos e imaginar que estou na minha cama com a minha mulher. Consigo recordar as texturas da almofada, dos nossos lençóis, do cheiro da sua pele pela manhã, o calor, a ausência de preocupações e obrigações. A viagem é fugaz e já chegámos. Amanheceu. Faço o check-in, peço o meu jornal e uma revista de carros (um guilty pleasure, reconheço, uma vez que agora não é altura de investir num carro novo, mas enfim), e sigo para a porta de embarque. Leio os títulos, dou uma vista de olhos pelas notícias principais e passo para o livro que o meu amor escolheu para mim. As revistas terão tempo de ser lidas e relidas no quarto de hotel.

O avião atrasa. Quase 2 horas. There goes lunch. Nevermind. Aquela sandes meio morna da TAP é o suficiente para acalmar o estômago. Chegamos a Genéve pelas 14h, hora local. Parece que a febre das obras abandonou Portugal e chegou à Suíça. Até o nosso taxista nos tem de deixar a alguns metros da casa-mãe, para fazermos o resto do precurso a pé, uma vez que a estrada está toda esburacada... A primeira formação corre bem, num gabinete luminoso e numa área desafogada. O nosso anfitrião é simpático e já nos conhecemos há ano e meio. O suficiente para estarmos à vontade e podermos trabalhar de modo informal. A sessão que devia durar 4 horas, durou pouco mais de hora e meia. Encontrámos alguns pontos de melhoria, estão compreendidos os pontos chave do projecto. No final, pergunta-me como vou para França. Digo-lhe que vou apanhar um táxi. Diz-me que vou pagar uma fortuna e dá-me uma espécie de voucher para a Companhia suportar a totalidade do custo. Já o faria na mesma, mas ao menos assim alivia a carga da nossa fábrica. O meu colega vai voltar para o aeroporto. Despeço-me. Até à vista.

As auto-estradas europeias não se parecem nada com as auto-estradas do nosso Portugal. Rodeadas de verde e sem casas à vista, parecem-me iguais sejam em Itália, Suíça ou França. O condutor, com um ar descontraído e conhecedor, dispensou o mapa que imprimi da net. Deduzi que já tenha levado mais gente a este hotel em Divonne-les-Bains. Dedução obviamente errada, pois dentro da povoação perde-se 2 vezes. Pergunta-se se falo francês. Pois claro. Falo o suficiente para dizer que não falo e mais nada. O taxista és tu. Desenrasca-te. Tenho aqui o mapa, se quiseres. Recusou o mapa novamente. A certa altura passamos o hotel e tenho de lhe explicar numa mistura em partes iguais de francês, inglês e português que temos de voltar para trás. Chegámos. Tenho um colega que diz que em todas as vezes que veio a Genéve apanhou taxistas portugueses. Bolas, ou eu tenho muito azar ou ele tem muita sorte.

O Hotel tem um ar estranho. Na recepção voam alegremente 4 moscas com as quais ninguém se parece incomodar. Suponho que o Lago a 400m seja fonte inesgotável de moscas e mosquitos, e que seja por isso que toda a gente encara isso com tamanha naturalidade. O recepcionista, num inglês atabalhoado, explica-me que vou ficar noutro edifício, num bloco de apartamentos. Ok, sei que alguns dos meus colegas deslocados começam em apartamentos alugados pela Companhia, antes de comprarem ou alugarem casa própria passado algum tempo. Suponho que este seja um dos locais de “acampamento”.

O apartamento é um T0, despido e asséptico. Tem loiça, mas não mini-bar. Tem a sanita numa pequena divisão e o lavatório e a banheira noutra. Hmm. Levantam-se algumas dúvidas quanto a esta opção, mas enfim. Tenho uma pequena varanda e um televisor. Ligação à net? No way Jose. Não faz mal. Por isso é que este post se chama em diferido.

Bate-me uma saudade. Esta casa vazia parece avivar ainda mais a lebrança de que a minha casa com a minha mulher e o meu cachorro estão a milhares de km. Só saí hoje de manhã, mas só de saber que vou estar fora estes dias já tenho saudades imensas. De chegar a casa, do meu beijo de boas-vindas, do nosso abraço, do Aragon feito doido a reclamar todas as brincadeiras que não teve durante o dia. Uma pequena chamada ajuda a minimizar a tristeza.

No restaurante, enquanto bebo a minha Evian e vou comendo um magret de canard delicioso, penso que a qualidade da refeição não significa mesmo nada neste momento. Abdicaria de todas estas coisas para à noite me poder enroscar na minha cama, com o meu amor ao meu lado. Sei que o trabalho é importante, e indispensável, infelizmente, mais não seja para podermos ter os pequenos luxos que ocasionalmente nos fazem esquecer que trabalhamos...

Depois da refeição, tomada sózinho, volto ao meu pequeno T0. Preparo o despertador e vejo o que passa na TV Francesa. Malditos francófonos e a sua mania de dobrar tudo o que é estrangeiro. Aprendam a ler legendas, idiotas! Só a abençoada CNN nos salva da hegemonia do francês nas séries e filmes que passam. Reconheço o Pursuit of Happiness num dos canais, mas não aguento ver o Will Smith falar em francês. Ligo para casa e falo com quem me faz feliz. Ainda consigo ouvir o cachorro refilão a ladrar para uma sombra no quintal (que valente) e levo as palavras trocadas para a cama, onde vou sonhar que estou na minha cama,na minha casa, com a minha família. Adormeço.
08.09.2008