Wednesday, March 14, 2007

A minha primeira (e última) lição de dança

Confesso que já andava curioso acerca deste tema há algum tempo. Para além do natural fascínio que a maioria das mulheres nutre pelas aulas de dança, elevei as danças de salão à categoria de fenómeno quando vi que o Camocho se tornou um habitué destas coisas. Conseguia perceber o Mário, quando ele me disse “epá a princípio ela arrasta-te, depois há uma altura em que achas que não sabes nada e a tua namorada é que sabe tudo, e achas que nunca vais aprender e depois, vês que é giro”, sendo que eu interpretei o seguinte “epá (...) ela arrasta-te, (...) a tua namorada é que sabe tudo, (..) nunca (..) é giro”. E claro, compreendi. Pareceu-me legítimo. Há coisas que, temos que admitir, fazemos para agradar à mulher da nossa vida. Agora o Camocho, single, solteirito da vida, andava nessas lides de livre e espontânea vontade? Fiquei curioso. Sem dúvida.

Assim sendo, e seguindo também um pouco pelos caminhos trilhados pelo Mário, concordei com a Carla (a minha Carla, não a do Mário), em ir a uma aula de dança, para experimentar. Devo admitir que o fiz com um pouco de receio. Primeiro, por causa do dress code. Sim, porque estas coisas têm um dress code. Se não forem vestidos de preto e com uma camisa ou camisola justinha, e uns sapatos abichanados que parecem veludo, com um tacão manhoso, nunca poderão ser verdadeiros “alunos de Apólo”. Ora, como eu não tenho calças pretas, e maior parte da minha roupa justa, convenhamos, só é justa porque a barriga atingiu proporções descomunais, fiquei um bocado receoso de ser barrado à porta. Já para não falar que não tenho nada que seja sequer remotamente parecido com aqueles sapatinhos de bichana. Mas não, nada disso aconteceu.

Era uma 2ª feira à noite. Só tinha comido uma sandocha antes de ir, e estava um bocado fraco. Primeiro foi difícil distinguir quem era o professor. Acima de tudo, porque ele só tinha 1,20m de altura. Mas era porreiro, e contrariamente ao que pensava, parecia um tipo normal, só que mais pequeno. E já diz o provérbio, “homem pequenino, velhaco ou dançarino”. E fez sentido. O povo sabe sempre estas coisas. Disse-nos para arranjarmos um espacinho e irmos tentando seguir. Assim fizémos.

Primeiro, o Samba! E eu esforcei-me. Esforcei-me mesmo. E olhem que a miúda que estava em frente ao professor tinha um decote lixado, mas mesmo assim eu mantive-me atento aos passos. E 1, e 2, e 3 e 4, e 5 e 6, 7 e 8. Pronto, o contar estava no papo! Só faltava o resto. Vou admitir que, por instantes, achei aquilo engraçado e pensei que até me estava a sair bem. E depois, olhei para o resto da sala. E que vi eu? Bem, primeiro, vi que não me estava a sair nada bem. Numa escala de 0 a 10, eu era estilo um 4. E 4, porque andava lá um puto de óculos, com um fato de treino e sapatilhas de basket, que me pareceu francamente pior do que eu. Via-se claramente que os seus momentos de eleição eram quando conseguia estar agarrado a uma das miúdas, mesmo se era só para lhes pisar os pés! Caso típico de quem adora aulas de dança, for all the wrong reasons. Mas hey, parece haver falta de homens naquelas coisas, e aqui podemos citar o povo novamente, “em terra de cegos quem tem um olho é rei”.

Ora, falemos agora dos tipos que estavam a dançar bem e que me fizeram perceber que eu não percebia um bi daquilo. Bem, eram dois tipos, com o dress code todo certo (calça e camisa preta e sapato preto com tacão), que de facto sabiam aquilo tudo e até ensinavam às parceiras os passos delas. Onde é que eu acho que eles falhavam? Sinceramente, e estou a ser muito honesto, falhavam porque eram abichanados até dizer chega!. Porque cada passo era adornado com coisinhas de bichona, estilo o revirar da mão, ou o pézinho que dá uma voltinha e ólarilolé e coisa e tal... E o professor, por exemplo, dançava bem mas não tinha aqueles tiques (ainda há esperança para quem dança...)! Acho que aquela malta anda ali a aprender os passos dos homens e das mulheres porque depois quando chega a casa, vai vestir a sandália de brilhantes, o vestido de lantejoulas sem costas e vai experimentar como é a vida do outro lado da barricada!

Bem, moving on, depois de o samba me ter dado alguma esperança de que algum dia talvez conseguisse dançar algo decentemente, veio a Rumba! E o professor disse logo, em jeito animador “este é o ritmo mais lento, por isso nao devem ter grandes problemas...” Ele bem disse, mas eu não confirmo! Lento? Lento, mas chato como o raio! E depois, o que é aquela mania de dar nomes esquisitos aos passos? New yorker, sliding doors, cucaracha (pronto, admito que este é giro), promenade, botafogo? Bem, a meio daquilo, eu e a Carla achámos que era demais... Uma coisa é querer aprender uns passitos para a malta se divertir, outra coisa é andar a treinar para o Dança comigo. Não que eu não goste da Sílvia Alberto e da Catarina Furtado. Mas era demais. Resultado, fomos comer um cachorro quente. Renunciámos às aulas de dança. Aquele homem que dançava nos bailinhos do Parchal aos saltinhos durante o verão passado, de certeza que nunca teve aulas e se o homem dava espectáculo!

5 comments:

headache said...

BWAAAHAHAHAAAHAHAHAHAAAAAHAHA
Final feliz ao menos (acabou com comida).

Anonymous said...

tens q dancar o q te vai na alma com uns toques de aulas de vez em qdo... nc ninguem na america do sul aprendeu "passos" nas aulas e sao os melhores do mundo a dar-lhe com a alma...

Darkgene said...

Sabes, Bruno, é isso mesmo que acho! Dançar tem de ser uma coisa mais espontânea. Claro que um passito aqui e ali fica bem, mas tem de ser algo mais pessoal... Treinar uma rotina de sequência de passos até à exaustão não me parece a melhor maneira de aprender a dançar...

Anonymous said...

E nao e'.

dawn2dusk said...

Espero que não desistam após a 1ª vez de tudo...
Acreditem em quem dá aulas! Dançar é espectacular, saber dançar é melhor ainda e dançar com alma aprende-se quando se aprende a gostar!
E na América do Sul nem toda a gente sabe dançar assim como em Portugal nem toda a gente sabe cantar o Fado!